sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Como assim "escritores de contos não são importantes"?


Momento WTF? da semana: No post The World Says: Short Stories Writers Are Crap, Silvia Moreno-Garcia conta a saga da página do escritor W.H. Pugmire na Wikipedia, que foi marcada para exclusão. Silvia descobriu, entre as justificativas para o expurgo, que Pugmire teria publicado apenas contos e poemas em revistas e antologias de pequenas editoras, em geral voltadas aos fãs de Lovecraft.

Parece-me que esta visão é um tanto comum no público geral. "Escritor" é o sujeito que escreveu um ou mais romances. Para parte do público, contos não chegam sequer a uma etapa intermediária antes do grande romance (e poesia, bem, é algo alienígena que quase ninguém lê). O desinteresse do público por contos é tão grande que já li, mais de uma vez, que os editores, depois do boom de contistas e cronistas brasileiros na segunda metade do século XX, têm fugido deles. E, sim, estou falando de literatura mainstream.

No mundinho da literatura fantástica brasileira, as coletâneas/antologias parecem suprir a ausência de periódicos dedicados aos gêneros e servem, assim, como veículos para a divulgação de novos autores, que vão ganhando desenvoltura ao lado de nomes consagrados (claro que não preciso dizer que falo dos trabalhos e editoras sérias). Não tenho como falar sobre as vendas destas edições, mas, considerando a sua presença no cenário da litfan brazuca, parece não fazer muito sentido pensar nos contos como uma forma "menor" de literatura, já que as antologias continuam a pipocar.

Talvez o maior fantasma esteja mesmo na cabeça dos escritores. A aparente fome inesgotável do mercado por trilogias e sagas extensas de fantasia tem lá sua parte nesta ideia besta. Quanto a isso, só posso falar de minha experiência pessoal, ou seja, o que funciona para mim pode muito bem não funcionar para ninguém mais. Não pretendo escrever agora nenhuma série de livros com dezenas de personagens e situações por uma razão muito simples: é um esforço que demanda o domínio de técnicas que ainda estou amadurecendo. Eu tenho algumas ideias para um projeto desta envergadura, mas no momento, dedico-me aos contos e a um romance ("volume único"), que já me dão trabalho suficiente. Não faço nada disso pensando na possível aceitação do tal mercado, mas como fruto de sinceridade comigo mesmo: Sinto-me mais a vontade para escrever assim e pronto. Encaro os contos como obras que precisam de tanta ou mais dedicação quanto um romance, cada um com seu potencial e limitações. E também os vejo como um campo de experimentação, para exercitar todas as partes de uma história: construção de mundo, personagens, diálogo,  etc. Uma coisa não exclui a outra. Na verdade, quanto mais eu escrevo, mais me sinto a vontade tanto para contar histórias mais enxutas quanto mais longas - e, verdade seja dita, meus contos andam crescendo...

Já aconteceu comigo exatamente o que Silvia relata em seu blog: ao dizer que publiquei contos, a pessoa que perguntou perde o interesse (e quando descobre que é literatura fantástica então...). Não, não me incomodo. Sei onde quero chegar e gosto muito do que estou fazendo. Acredito, basicamente, em dedicação e trabalho árduo, em qualquer gênero e formato. E, se você é, assim como eu, um escritor iniciante que escreve contos, não deveria se preocupar com nada disso. Continue a nadar, diria a Dolly.

Quanto a leitores que realmente acreditam na bobagem dos formatos "inferiores", nunca leram Anton Tchekhov, Dalton Trevisan ou Asimov. Se eu estivesse entre eles, iria correndo experimentar estes e mutos outros grandes autores de pequenas narrativas.

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